Vacinas

06/08/2019 09:59

1) O que são vacinas, para que servem e como surgiram?

As vacinas são produtos biológicos que protegem as pessoas de doenças infecciosas. São desenvolvidas a partir de vírus ou bactérias, previamente atenuadas ou mortas, ou ainda, por fragmentos desses agentes.

A função das vacinas é estimular uma resposta imunológica no organismo da pessoa vacinada, que passa a produzir anticorpos específicos contra essas doenças, o que se chama Memória Imunológica.

Em 1796, após 20 anos de estudos, o cientista inglês Edward Jenner demonstrou que poderia haver proteção contra a Varíola. Ele observou que as mulheres que trabalhavam como ordenhadoras de vacas, e percebeu que elas tinham lesões de pele da Varíola Bovina (iguais as das vacas), mas não desenvolviam a Varíola Humana (doença bem mais grave e disseminada entre a população na época). Retirou então material das lesões das mulheres e inoculou em um menino. O mesmo teve contato com doentes de Varíola e não desenvolveu a doença.

 

2) Posso atrasar o cronograma das vacinas? Qual a importância da caderneta de vacinação?

O calendário vacinal é formulado para proporcionar proteção máxima às pessoas. Atrasos vacinais, principalmente na infância, deixam os pacientes desprotegidos. Antecipar as vacinas também pode ser ineficiente, caso o sistema imune não esteja maduro ou competente.

O ideal é que não haja atrasos vacinais. A maioria das vacinas é feita na primeira infância (até os dois anos de idade), o que tem o intuito de promover a formação de anticorpos o mais precocemente possível. É sabido que as crianças pequenas são mais suscetíveis às doenças infecciosas, e no caso de muitas doenças, o fato da mãe já tê-la contraído não confere a proteção dos anticorpos maternos ao feto ou bebê.

Só se deve atrasar a aplicação das vacinas em caso de febre ou infecções mais graves (Pneumonias, Infecção Urinária, etc).

A caderneta de vacinação é um importante documento de saúde pública e pessoal, que descreve todas as vacinas feitas pela pessoa. Tornando mais fácil a análise pelos profissionais de saúde.

 

3) Alguma doença pode ser erradicada por meio de vacinas?

Sim. A Varíola foi erradicada após o experimento de Jenner, com a vacinação em massa da população.

A Poliomielite (Paralisia Infantil) foi erradicada do Brasil desde 1989. No começo da década de 1960, foi descoberta a vacina oral da Pólio, a famosa Sabin, que pela facilidade de administração possibilitou várias campanhas de vacinação em massa com enorme adesão da população.

 

4) As pessoas precisam se vacinar contra todas as doenças que circulam na comunidade?

Sim, com certeza. Existem várias doenças, como o Sarampo, por exemplo, que não circulavam mais em nosso país há muitos anos, e voltaram a ocorrer aqui. Isso se deve a baixa cobertura vacinal em outros países, e em função das migrações, chegaram novamente ao Brasil. Conforme dados do Ministério da Saúde, no ano de 2018 ocorreram 10302 casos confirmados de Sarampo no país, e até maio de 2019, 123 casos confirmados e 348 notificados.

O Sarampo havia sido considerado erradicado do Brasil em 2016, quando o país recebeu o certificado da Organização Mundial da Saúde (OMS) de país livre de Sarampo. Esse ano, perdemos o título e o Sarampo já é considerado epidêmico no Brasil

 

5) Por que as coberturas vacinais estão abaixo do desejado no Brasil?

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é referência mundial. O Brasil foi pioneiro na incorporação de várias vacinas no calendário do SUS, e é um dos poucos países que oferecem um amplo rol de vacinas gratuitas à população. Apesar disso, nossas coberturas vacinais vêm diminuindo nos últimos anos.

Parece haver uma dicotomia nisso: o sucesso do PNI pode ser uma das causas das quedas nas coberturas vacinais! Como o PNI imunizou amplamente, na infância, a população que hoje tem entre 30-50 anos de idade, várias doenças parece haver “desaparecido”, dando uma falsa impressão de que não existem mais, e por isso a população não percebe a importância da vacinação.

Além disso, existe o Movimento Antivacinismo vem se difundindo em vários países, sejam por motivos religiosos, motivos filosóficos, medo das reações adversas ou até por orientação médica (médicos homeopatas, naturopatas e antroposóficos).

Devemos também mencionar as fake news que circulam, que tem o intuito de diminuir a importância da vacinação na saúde pública e incutir medo e dúvidas na população. Notícias erroneamente divulgadas e nunca comprovadas cientificamente, como: vacinas causam Autismo, vacinas não devem ser feitas na infância, vacinas já mataram milhares de pessoas  ou que vacinas podem ser usadas como método contraceptivos.

Um relatório da OMS afirma que a resistência à vacinação (Movimento Antivacinismo) foi incluído numa lista entre os 10 maiores riscos à saúde global em 2019.

 

No final do século 20, o CDC, órgão máximo da saúde pública nos Estados Unidos publicou uma lista das 10 maiores conquistas do país no campo da saúde pública entre 1900 a 1999. Em 1º lugar estavam as imunizações! Ao lado das melhorias sanitárias, em particular a água tratada, nada trouxe tantos avanços em benefício da saúde humana quanto as vacinas!

Texto: Dra. Andréa Benincá de Almeida – Médica do Trabalho no DAS/UFSC